Faltam duas horas para o jogo começar. Estou pronta e minha última dúvida é se posso levar bolsa. Não custa perguntar. Ele não responde e diz que vai se atrasar. Finjo que sou compreensiva e continuo esperando. Quem já esperou tanto tempo pode esperar mais 20 minutos sem surtar. Eu faço terapia!
É necessário muito amor para me levar a um estádio porque isso implica responder questões como “nem o esmalte pode ser vermelho?” e “tem certeza que não vão jogar saco de xixi na gente?”. Apesar de tudo garanto que sou a companhia mais animada do mundo. Uma animação quase infantil. Enquanto espero, repasso algumas histórias que decorei para poder me fazer de entendida. Coisas simples como “este é o segundo estádio, o outro era ali perto do jockey”. “é mesmo necessário ter 34 jogadores?” (descarto essa por não achar de bom tom pagar do tipo não-sei-nem-o-que-um-zagueiro-faz) “ah o Tcheco? Sei sim”. Fiz uma pesquisa superficial para que ele pudesse demonstrar todo seu garbo, elegância e conhecimentos nerds. Tudo executado com muito sucesso.
A entrada do estádio me lembra demais o estádio da minha cidade. O nosso – o irmão pobre – tem capacidade para 6 mil pessoas e só vi cheio uma vez no show do Daniel. Mas aqui é diferente. Jogo da segunda divisão e estádio bem cheio. Ele me diz que a torcida é muito fiel. Devo estar com uma cara bem assustada porque ganho um abraço do tipo você-está-comigo-e-nada-vai-acontecer-com-você. Ser mulher é muito bom! Acomodada em meu lugar já vou dizendo que dá próxima vez quero assistir da arquibancada. Calma, calma, devagar. Se bem que me disseram que estou naquele também conhecido como “setor de namorados”. Lindo isso! Apesar de eu ficar imaginando os rapazes ali com olhar comprido pra arquibancada desejando estar no meio da bateria. Eu queria, pelo menos.
Mas vamos ao jogo. “Sabe o que é impedimento né?” “Aham” e tento explicar tipo Arnaldo Cézar Coelho...quando o último zagueiro está atrás da linha do último...me perdi. E ele me explica daquele jeito objetivo que só homens sabem fazer. Ao nosso lado tem um cara que eu super queria ser amiga. Ele xinga o lateral de forma a facilitar muito meu entendimento das posições. O lateral eu já sei quem é. Rola a partida e nada de gol. É muito azar. Mas lá pelos 38 minutos do primeiro tempo meu querido lembra de coisas importantes que devem ser verbalizadas e diz olhando pra mim “antes que eu me esqueça, você está muito bonita” correspondo o olhar e suspiro um “ahhhh” GOOOOOLLLLLLLL!!! “Não acredito que a gente perdeu de ver!” e ele inteligentemente diz “mas valeu a pena e logo eles fazem outro.” Ele estava certo. Mas até aí, nenhuma novidade, ele sempre está. Continuamos assistindo e conversando, mas sem tirar os olhos do campo agora. Vez ou outra somos interrompidos por um super especialista que comenta todos os movimentos e está sentado bem perto de nós. No segundo tempo, meu amigo que tanto xingava o lateral não volta, imagino que tenha ido pro outro lado do campo junto com seu time. A bateria não cansa nunca. Mas nem todo o empenho consegue estimular novos gols. 5 4 3 2 1 e dá tempo de cantar o hino mais uma vez. Fim da partida. Uma nova era começa na minha vida!
Encerramos o dia comendo comida mexicana bem perto do Curitiba Comedy Club – que eu aponto e digo que quero muito conhecer. A vantagem é que depois de tanto tempo, eu já não preciso dar nenhuma indireta.
Beijo grande
Kézia