sexta-feira, 1 de abril de 2011

Lupita - Cap II

O tempo sempre é benéfico.
Passa, traz cura, mudanças, novas idéias, novas razões, novas emoções.
E isso é uma maré de novas inspirações para os nossos personagens da vida real.

Aquele velho jardim continuava lindo, cheio de rosas de diversas cores como sempre. As vermelhas estavam mais vermelhas que de costume.. Era daquele jardim que emanava o cheiro característico daquela rua pacata e tranquila.

O jardim não mudara em nada ao longo do tempo. Ele estava ali, lindo como sempre.

A caixa de correio continuava no mesmo lugar.Quantas notícias não chegaram por ali nas mãos do mesmo carteiro, durante tanto tempo... E aquele mesmo c arteiro, foi parando lentamente de ir àquela caixa... Ao ponto de ir apenas esporádicamente, deixando apenas as correspondências automáticas e rotineiras...

Naquele mesmo jardim, das mesmas rosas de sempre e da mesma caixa de correio, ainda estava acomodado o mesmo banco. O banco que já acomodou esperança, amor, angústia, ansiedade, tristeza. Nele, hoje, só restam gotas de orvalho depois da chuvinha das 17:00 que estava rotineira naquela época. Talvez fosse esse o segredo das rosas vermelhas estarem mais vermelhas, talvez fosse esse o segredo daquelas rosas serem tão cheirosas.

Eu falo do Jardim da casa de Lupita, onde ela aguardava todos os dias ansiosamente pelas cartas de Javier. As cartas que contavam de maneira tão densa os momentos da vida dele, e de tudo o que ele pensava e sentia. Aquelas mesmas cartas que a deixava tão angustiada e tão feliz ao mesmo tempo... cartas que a levavam a crer que sua vida estava traçada à dele. Cartas essas que a fizeram crer também que a melhor solução era queimar todas elas e seguir em frente.

E que bom que ela queimou todas elas e seguiu em frente.

O tempo passou e aquela ferida foi curada. A cicatriz ainda está lá, mas do que importa? Cicatriz é a marca que o corpo deixa pra deixar de lembrete quando estamos prestes a cometer o mesmo deslize. E o deslize de Javier, Lupita não se deixaria permitir.

Até porque Lupita é meiga, mas é forte. É romântica, mas é firme. É encantada, mas é sensata.
E ela tem uma capacidade incrível de dar a volta por cima.
É disso que estamos falando! Mulheres lindas por dentro e por fora que sabem se reerguer com elegância.

Lupita amadureceu. Está mais consciente. Mais segura do que quer. Ela está com a mente tranquila e o coração sereno.

Mas de uma forma ou de outra, Javier não sumiu por completo de sua vida, por menos que ela quisesse. Ele ainda tinha seu endereço e sabia por onde ela andava e com quem andava.

Dia desses, Lupita resolvera abrir a caixa do correio, afinal as cartas chegam e pra ser bem sincera assim como toda essa história, ela nem estava pensando em receber uma carta de Javier. Estava interessada em outras correspondências, essas bem corriqueiras do dia a dia.

Ao verificar o remetente de uma das cartas, não acreditou. "Javier me mandando um postal?" - Indaga-se. Sim, Javier lhe escrevera um postal:

"Estoy enamorado. E mi guapa há de me hacer um hombre contente!"

Lupita não achou nada. Só sorriu e achou graça. Rasgou e jogou fora.

Tocou a vida.

O tempo é eficaz. Provou a ela que ela estava bem, ela estava bem! Não lhe doera aquilo. Nem um pouquinho. Talvez tenha mexido no ego dela, mas só um pouco. "Idiota" - pensou.

Ligou para a amiga Miranda e contou-lhe o ocorrido. Miranda não ficava feliz ao saber de notícias de Javier - ela não gostava nada de lembrar do quanto sua amiga sofreu. Foi Miranda que a apoiou a queimar todas as cartas e ela que organizou o velório e o enterro mental de Javier para Lupita.

Mas, como nossa protagonista sabe ser melhor em dar a volta por cima, semana seguinte aparece outro postal de Javier:

"Mi guapa abandonou-me! Soy un hombre desonrado!"

Como pode, num intervalo de tempo tão curto, Javier aspirar nobreza com uma nova mulher, ao ponto de expressar isso num postal? E mais, como pode Javier se considerar um homem agora desonrado? Não estamos falando de meses, estamos falando de UMA SEMANA.

UMA SEMANA.
SETE DIAS.
168 HORAS.

Lupita não se aguentou. Sorriu. Acabou não se contendo e gargalhou. Muito. Sentou-se no mesmo banco (aquele de tantas angústias e anseios) e gargalhou. Teve uma crise de riso, era difícil de aguentar. Era um postal tão curto e tão compensador, que Lupita chegou a chorar de tanto rir. Sentia como se tivesse pulado uma fogueira. Estava aliviada e vingada. Não teve jeito, acabou ligando para a amiga Miranda. Esta que gargalhou junto, propôs um brinde, marcou um encontro para o mesmo dia e bolou planos mirabolantes.

Lupita, como sempre, foi encontrá-la. Morria de rir com os planos da amiga Miranda.
E algumas coisas que Miranda bolava ela até gostava e planejava junto.
Um desses planos consistia em apresentar-lhe Ramón.
O engraçado é que Javier tinha um grande amigo que também se chamava Ramón.
Coincidência?! Hmmm...

Muitas risadas e bebidinhas borbulhates depois, Lupita chega em sua casa e se depara com aquele jardim, tão lindo...

A lua estava clara no céu, as rosas cheiravam como nunca... resolveu sentar naquele banco. Sim, aquele mesmo que tinha lhe trazido tantos sentimentos. Sentar-se nele hoje era como uma revisita ao passado, mas sem vivenciar nada. Quantas coisas ela havia passado... como cresceu! como amadureceu... como estava feliz!
"Buena suerte en Guadalajara, Javier..." - Pronunciou confiante e sem remorso algum.

Observou o jardim, lindo como sempre. Olhou mais... e reparou que ele não estava lindo como sempre. Ele estava mais lindo do que nunca esteve. Ele estava perfeito. A grama viçosa, as rosas vermelhas desabrochadas e num tom vermelho-vivo impressionante. As brancas estavam suaves.... as rosas, delicadinhas. As amarelas começavam a desabrochar. Quanto a caixa de correio estava curiosamente aberta, como ela havia deixado antes de ir encontrar Miranda. Achou engraçado. Ficou um bom tempo admirando aquilo tudo.

O telefone toca e era Miranda:

- Chegaste bien, amiga?! - Pergunta Miranda.
- Siii, amiga!
- Onde estás?! a céu aberto? barulho de vento!

Lupita explicou onde estava e o que estava fazendo...
E Miranda, por mais efusiva que fosse.... respirou fundo (pra falar sério, Miranda sempre respirava fundo) e disse a amiga:

"Querida Lupita... sabe esse jardim lindo tão bem descrito?! é como o se fosse você... está lindo, vivo, na melhor fase da vida dele... as cartas?! bem, é como se fossem propostas, e isso chega de tanta gente... mas o que interessa é saber a correspondência certa para mudar sua vida. O que resta, é filtrar bem o remetente! E nunca esqueça de deixar a caixa de correio (que é o seu coração) sempre aberta pra isso."

Se Lupita gostou do recado, não se sabe. Ela apenas sorriu, pôs a mãozinha no coração e disse "Ai Mi!"

(...)

E eu tenho certeza, que não só Miranda espera por mais uma linda história de amor com final feliz dessa guapa tão linda e especial.

Um beijo para a Lupita e para todas as Lupitas desse mundo,

Fernanda.

2 comentários:

nanda disse...

Eu conheço tantas Lupitas!!
Eu sou Lupita total...
E obrigada por nos desejar sorte!
Texto lindo, Fernanda!
Beijocas!

Srta. Caroline disse...

Olá.
Sou uma Lupita e, quem não é ou já foi algum dia?

Ainda não dei a volta por cima, estou no meio do inferno, sem jardim, sem luz, sem nada.

Desejo muito vencer tudo isso e me reerguer, como o fez Lupita.
Desejo também, que isso ocorra muito em breve, afinal preciso cuidar do meu jardim...

Bjo