Toda madrugada era longa demais. Eu sempre pensava o que faria no novo dia. Para ter a sensação que o dia ia demorar para chegar, a gente saía andando por aí. Lembro do vento gelado. Da cidade quieta. Dos parceiros carregando o amigo bêbado. A menina que desabafava alto demais que ele não valia 1 real. Mentindo. Para ela, ele valia muito. Muito. E ela deixaria de pintar o cabelo de azul se ele pedisse. E ela ainda esperava ele ligar arrependido. Lembro dos meus amigos jogando War imaginário. Do jogo insuportável de palavras terminadas em ‘mente’. A temperatura que caía depressa. Você fechando mais um botão do casaco. Encolhendo os ombros. Sempre tinha uma música nova que você queria que eu conhecesse. E eu podia rir de todas. Chamar de romantismo brega. Mas eu queria que você entendesse que este era um sim. Sim, é você! Sim, eu também. Sim, eu tenho certeza. Sim, pode ser agora. Sim, sim. Então você precisou ir embora. E eu mudei o número do meu celular. E nunca mais li os emails. E eu quis um assassinato. E eu sabia que não poderia viver num mundo em que você não existisse. Daí as lembranças começaram a desbotar. Mesmo que eu me concentrasse não conseguia lembrar da sua voz. Nem como era aquele jeito estranho que você falava alguns fonemas. Nem como você mexia as mãos quando tentava me explicar alguma coisa. Nem como se desculpava por ter falado um palavrão... Até que hoje eu tive um sonho estranho. Você me abraçava e eu te abraçava. E eu fui acordando devagar. Como se fosse o momento de se afastar de abraçar. Olhei o relógio. Era hora da cabeça conversar com o coração. Não existia espaço para saudade. Não tinha mais lugar para fingimento. Era hora de fazer morrer ali também. Devagar. Como um abraço de despedida. Ser guardado num cantinho que seria visitado poucas vezes. Um cantinho que só cabe um suspiro. Onde todas as coisas que foram enormes ficam bem pequenininhas. E o coração ficar maior de novo. Tempo de ir sumindo aos poucos. Sem pressa. Como brisa de verão. E o coração finalmente aceitar que tudo passa. Como passa o vento.
Beijo grande e um abraço ao Pedro pela música inspiradora (oooo lindeza!)
Kézia
7 comentários:
Valeu, Kézia!! Ficou muito legal o texto!! =]
Espero que você tenha se referido ao assassinato somente no sentido figurado, rsrs.
Um beijão enorme pra você!
Pedro.
"Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo"
Tempo... nosso amigo...
Beijo!!!
Ma
Kézia Kézia...
muito lindoooo o texto.
hehehe
o resto tu já sabe ;)
bjooo
Que bonito, Kézia. O importante é que emoções você viveu.
Beijão,
Bela - A Divorciada
Nossa Kézia....você falou ao meu coração do meu coração! Vivi isso esta semana.
Tem horas que estamos tão só que é o infinito!
beijocas,
Mari.
Às vezes eu fico meio assustada quando alguém escreve algo sobre ela e eu me identifico.
Muito bom o texto, e muito lindo!
Beijos
Texto fascinante, Kézia. Li algumas vezes e continuo impressionado. É de uma sensibilidade atordoante. Não havia lido um texto assim. Realmente lindo.
Um beijo.
Sato.
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