quarta-feira, 27 de abril de 2011

Haja coração

- Oi Kézia, vamos correr hoje?
- Ah hoje não rola. Quem sabe amanhã...
- Amanhã vou correr com meu namorado. Se você quiser vir com a gente...

Desligo o telefone e faço uma breve retrospectiva pra tentar entender o que está acontecendo aqui.

Primeiro ela deixou de fumar e depois fez a cirurgia. Não. Ela deixou de fumar por causa da cirurgia. Não. Ela aproveitou que queria parar de fumar e fez a cirurgia. Ai. Sei lá. Só sei que operada e sem o cheiro de cigarro por que não começar de verdade a academia? E como estímulo, por que não diminuir os potes de nutella e a pizza do jantar? E para exteriorizar a mudança por que não voltar a ser morena? E convenhamos, uma morena que treina e se empenha na reeducação alimentar, merece uns vestidos floridos pra se sentir ainda mais feminina. E acompanhando todo o colorido dos vestidos novos, talvez ela tenha entendido que era o momento de trazer mais cor aos dias e terminar de uma vez o namoro com aquele cara bacana, mas que há muito tempo tinha se tornado apenas um amigo que organizava os DVDs de séries e jogos.

E daí uma vez solteira era hora de reaprender a ser solteira. Sair com as amigas e não precisar ligar pra ninguém pra dar boa noite. E não ter ninguém para dar boa noite. E sentir uma pontinha de falta disso. E ficar disponível de novo. Até que de repente, sem nenhum aviso, nenhuma promessa ou qualquer expectativa, aparece um cara que faz uma noite comum ficar muito boa, e se despede deixando aquelas muitas dúvidas comuns a casos que tinham tudo pra dar certo e simplesmente não dão. “Ué, mas eu pensei que... será que eu entendi errado? Sei não. Aí tem”. E a solução é relaxar e deixar rolar. E lembrar como é este negócio de deixar rolar. Lembrar como é este negócio de esperar. E como é este negócio de fazer acontecer. Até perceber que ao invés de passar o dia todo jogando Tomb Rider, você está lá, lá fora, lá onde as coisas acontecem, e está lá sorridente e orgulhosa do namorado lindo que está arrasando no tatame.

Ah tá. Agora entendi... o ciclo foi este. E antes de finalizar o raciocínio vejo que ela atualizou o Facebook. “Opa, hora de conhecer o rapaz. Vamos lá. Mas O QUE QUE É ISSO?!!” Minha única reação é enviar uma mensagem pra ela: “Palmas pra você! Seu namorado é um gato! Haja coração pra tanta mudança.”

Haja coração!


Beijo grande
Kézia

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Nós, mulheres apaixonadas...

Hoje tem participação especial por aqui, a Verônica, que já passou por este blog assim e agora voltou com tratamento novo, seu próprio blog, o Cotidiano e Psicologia e olhinhos brilhando. Então, fiquem com ela que anda muito experiente no que fala.
Beijo
Kézia


Nós, mulheres apaixonadas
Somos doces, mas ao mesmo tempo, ácidas.
Somos inteligentes, mas nossa experiência, títulos e diplomas não nos ajudam em nada na matéria amor.
Somos cuidadosas, mas em alguns momentos, não lembramos de nada disto.
Somos queridas, mas por vezes somos irritantes.
Somos atraentes, mas em determinados momentos causamos repulsa.
Somos cheirosas, mas há momentos em que nosso cheirinho deixa de ser de o melhor.
Somos princesas, mas também somos bruxas.
Somos intensas, mas por muitas vezes, isto faz mal.
Somos impulsivas, e, neste momento, somos burras.

Ser doce, inteligente, cuidadosa, querida, atraente e cheirosa são quesitos básicos para que possamos assumir o papel de princesa quando encontramos aquele que nos faz pensar: "é o homem da minha vida".

Neste mesmo papel, há também o momento vilã. O momento em que sentimos que algo de errado está acontecendo. Ou não. E por muitas vezes não.

Mas somos intensas e impulsivas. E isto faz com que o não-quase-sim torne-se a pólvora do gatilho que não deveria ter sido acionado, afinal de contas somos inteligentes, independente de títulos e diplomas. Acionar este gatilho faz mal, sabemos disto, mas repentinamente ele nos torna "burras" que, quando vimos, acionado está.

E aí vem aquela parte da peça em que não gostaríamos de assistir, muito menos de ter escrito. Fica a critério de cada um visualizá-la neste momento.

Mas tudo isto tem um nome: Paixão. Paixão intensa decorrente de um cuidado nunca visto, de uma química + física nunca antes vivida, de uma troca de olhares estonteante, de um abraço caloroso, de dias e dias deliciosos, de ver tudo o que você sonhou tornando-se realidade alí, bem na sua frente. E o melhor: com você.

Por isto, compartilho aprendizados da última noite de não-sono. Ame, mas ame intensamente. Demonstre seus sentimentos. Não deixe os dias passarem com um "eu te amo" engasgado na garganta por ainda não ter encontrado o melhor momento para dizê-lo.

Sente? Diga. Fale. Expresse. Mas cuide com a intensidade e com a impulsividade. Afinal de contas, nós, mulheres apaixonadas, somos absolutamente inteligentes pois não acreditamos na teoria fútil que diz: "pega-mas-não-se-apega". Nos apegamos sim. Intensamente.


quinta-feira, 14 de abril de 2011

A short story

Não importa o quanto você é legal, nem o número de piadas que saiba contar, nem mesmo se consegue fazer piada de tudo, nada disso será levado em consideração se você estiver na minha turma e falar inglês muito bem. E nem estou incluindo aqueles que se expressam melhor do que eu, porque em certas situações em que todo mundo ri e eu simplesmente não entendo lhufas, eu chego a pensar que o inglês é uma língua encantada que jamais será desmistificada por mim.

Falo aqui de pessoas especiais. Aquelas que sempre gostaram de punk rock, tocam em bandas de hardcore e cantam ska mesmo depois de ter ouvido só umas duas vezes a música.

Não é nada pessoal. Eu gosto da pessoa. Chego a criar um carinho que me balança. Quase me faz titubear. Mas é mais forte do que eu. E não tem jeito eu vou detestar ser sua parceira em qualquer atividade, vou ignorá-lo por seu vocabulário ser ótimo, vou virar os olhos quando você escrever um texto infinitamente maior e melhor do que o meu e vou morrer aos poucos quando eu perceber que você sabe usar preposições.

E sem querer as coisas tomam proporções maiores. Transcendem as paredes da minha sala:

− E daí, Kézia, como está a sua turma?

− Ah, tudo tranqüilo.

− Ai, guria, a minha me faz lembrar você.

− Mas o que aconteceu?

− Tem um menino de 13 anos que já morou fora do país e fala inglês muito bem. Ele é um amor, mas não dá, me dá um ódio. Odeio demais.

Kézia fazendo discípulos. E veja a que ponto chegamos: odiando adolescentes queridos!

Isso me lembra uma situação recente que aconteceu bem longe da escola de inglês:

− Nem me fale deste fulano. Ele é super misógino.

− É o quê?

− Ah, misógino, Kézia. disse ela já ficando vermelha como sempre fica quando acha que falou um pouquinho demais.

− Mas, senhor, ainda bem que não preciso conviver com você diariamente. Ia me sentir a maior ignorante.


*atentar para o fato de no rascunho deste texto eu ter escrito bisógino, até jogar no Houiass e descobrir que é misógino, aquele que tem ódio ou aversão às mulheres. Português pré-avançado define.


Beijo grande

Kézia

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Lupita - Cap II

O tempo sempre é benéfico.
Passa, traz cura, mudanças, novas idéias, novas razões, novas emoções.
E isso é uma maré de novas inspirações para os nossos personagens da vida real.

Aquele velho jardim continuava lindo, cheio de rosas de diversas cores como sempre. As vermelhas estavam mais vermelhas que de costume.. Era daquele jardim que emanava o cheiro característico daquela rua pacata e tranquila.

O jardim não mudara em nada ao longo do tempo. Ele estava ali, lindo como sempre.

A caixa de correio continuava no mesmo lugar.Quantas notícias não chegaram por ali nas mãos do mesmo carteiro, durante tanto tempo... E aquele mesmo c arteiro, foi parando lentamente de ir àquela caixa... Ao ponto de ir apenas esporádicamente, deixando apenas as correspondências automáticas e rotineiras...

Naquele mesmo jardim, das mesmas rosas de sempre e da mesma caixa de correio, ainda estava acomodado o mesmo banco. O banco que já acomodou esperança, amor, angústia, ansiedade, tristeza. Nele, hoje, só restam gotas de orvalho depois da chuvinha das 17:00 que estava rotineira naquela época. Talvez fosse esse o segredo das rosas vermelhas estarem mais vermelhas, talvez fosse esse o segredo daquelas rosas serem tão cheirosas.

Eu falo do Jardim da casa de Lupita, onde ela aguardava todos os dias ansiosamente pelas cartas de Javier. As cartas que contavam de maneira tão densa os momentos da vida dele, e de tudo o que ele pensava e sentia. Aquelas mesmas cartas que a deixava tão angustiada e tão feliz ao mesmo tempo... cartas que a levavam a crer que sua vida estava traçada à dele. Cartas essas que a fizeram crer também que a melhor solução era queimar todas elas e seguir em frente.

E que bom que ela queimou todas elas e seguiu em frente.

O tempo passou e aquela ferida foi curada. A cicatriz ainda está lá, mas do que importa? Cicatriz é a marca que o corpo deixa pra deixar de lembrete quando estamos prestes a cometer o mesmo deslize. E o deslize de Javier, Lupita não se deixaria permitir.

Até porque Lupita é meiga, mas é forte. É romântica, mas é firme. É encantada, mas é sensata.
E ela tem uma capacidade incrível de dar a volta por cima.
É disso que estamos falando! Mulheres lindas por dentro e por fora que sabem se reerguer com elegância.

Lupita amadureceu. Está mais consciente. Mais segura do que quer. Ela está com a mente tranquila e o coração sereno.

Mas de uma forma ou de outra, Javier não sumiu por completo de sua vida, por menos que ela quisesse. Ele ainda tinha seu endereço e sabia por onde ela andava e com quem andava.

Dia desses, Lupita resolvera abrir a caixa do correio, afinal as cartas chegam e pra ser bem sincera assim como toda essa história, ela nem estava pensando em receber uma carta de Javier. Estava interessada em outras correspondências, essas bem corriqueiras do dia a dia.

Ao verificar o remetente de uma das cartas, não acreditou. "Javier me mandando um postal?" - Indaga-se. Sim, Javier lhe escrevera um postal:

"Estoy enamorado. E mi guapa há de me hacer um hombre contente!"

Lupita não achou nada. Só sorriu e achou graça. Rasgou e jogou fora.

Tocou a vida.

O tempo é eficaz. Provou a ela que ela estava bem, ela estava bem! Não lhe doera aquilo. Nem um pouquinho. Talvez tenha mexido no ego dela, mas só um pouco. "Idiota" - pensou.

Ligou para a amiga Miranda e contou-lhe o ocorrido. Miranda não ficava feliz ao saber de notícias de Javier - ela não gostava nada de lembrar do quanto sua amiga sofreu. Foi Miranda que a apoiou a queimar todas as cartas e ela que organizou o velório e o enterro mental de Javier para Lupita.

Mas, como nossa protagonista sabe ser melhor em dar a volta por cima, semana seguinte aparece outro postal de Javier:

"Mi guapa abandonou-me! Soy un hombre desonrado!"

Como pode, num intervalo de tempo tão curto, Javier aspirar nobreza com uma nova mulher, ao ponto de expressar isso num postal? E mais, como pode Javier se considerar um homem agora desonrado? Não estamos falando de meses, estamos falando de UMA SEMANA.

UMA SEMANA.
SETE DIAS.
168 HORAS.

Lupita não se aguentou. Sorriu. Acabou não se contendo e gargalhou. Muito. Sentou-se no mesmo banco (aquele de tantas angústias e anseios) e gargalhou. Teve uma crise de riso, era difícil de aguentar. Era um postal tão curto e tão compensador, que Lupita chegou a chorar de tanto rir. Sentia como se tivesse pulado uma fogueira. Estava aliviada e vingada. Não teve jeito, acabou ligando para a amiga Miranda. Esta que gargalhou junto, propôs um brinde, marcou um encontro para o mesmo dia e bolou planos mirabolantes.

Lupita, como sempre, foi encontrá-la. Morria de rir com os planos da amiga Miranda.
E algumas coisas que Miranda bolava ela até gostava e planejava junto.
Um desses planos consistia em apresentar-lhe Ramón.
O engraçado é que Javier tinha um grande amigo que também se chamava Ramón.
Coincidência?! Hmmm...

Muitas risadas e bebidinhas borbulhates depois, Lupita chega em sua casa e se depara com aquele jardim, tão lindo...

A lua estava clara no céu, as rosas cheiravam como nunca... resolveu sentar naquele banco. Sim, aquele mesmo que tinha lhe trazido tantos sentimentos. Sentar-se nele hoje era como uma revisita ao passado, mas sem vivenciar nada. Quantas coisas ela havia passado... como cresceu! como amadureceu... como estava feliz!
"Buena suerte en Guadalajara, Javier..." - Pronunciou confiante e sem remorso algum.

Observou o jardim, lindo como sempre. Olhou mais... e reparou que ele não estava lindo como sempre. Ele estava mais lindo do que nunca esteve. Ele estava perfeito. A grama viçosa, as rosas vermelhas desabrochadas e num tom vermelho-vivo impressionante. As brancas estavam suaves.... as rosas, delicadinhas. As amarelas começavam a desabrochar. Quanto a caixa de correio estava curiosamente aberta, como ela havia deixado antes de ir encontrar Miranda. Achou engraçado. Ficou um bom tempo admirando aquilo tudo.

O telefone toca e era Miranda:

- Chegaste bien, amiga?! - Pergunta Miranda.
- Siii, amiga!
- Onde estás?! a céu aberto? barulho de vento!

Lupita explicou onde estava e o que estava fazendo...
E Miranda, por mais efusiva que fosse.... respirou fundo (pra falar sério, Miranda sempre respirava fundo) e disse a amiga:

"Querida Lupita... sabe esse jardim lindo tão bem descrito?! é como o se fosse você... está lindo, vivo, na melhor fase da vida dele... as cartas?! bem, é como se fossem propostas, e isso chega de tanta gente... mas o que interessa é saber a correspondência certa para mudar sua vida. O que resta, é filtrar bem o remetente! E nunca esqueça de deixar a caixa de correio (que é o seu coração) sempre aberta pra isso."

Se Lupita gostou do recado, não se sabe. Ela apenas sorriu, pôs a mãozinha no coração e disse "Ai Mi!"

(...)

E eu tenho certeza, que não só Miranda espera por mais uma linda história de amor com final feliz dessa guapa tão linda e especial.

Um beijo para a Lupita e para todas as Lupitas desse mundo,

Fernanda.