quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O amor no campo de batalhas

Quem pode dizer que se relacionar é fácil? Relacionamentos são como CDs, você quer muito uma parte e para desfrutar dela é necessário comprar o CD todo (um aleluia ao 4shared). E não é porque parte do CD é horrível que ele deve ser descartado. Não. Por mais que você reclame, é difícil se desfazer porque sempre vem à memória o quanto aquela aquisição é valiosa. Então as músicas ruins nem ficam tão insuportáveis assim. Fazem parte do repertório. E existem as músicas boas, e ah... elas são tão boas!

O que acontece é que às vezes supervalorizamos as músicas ruins. Damos a elas dimensões inestimáveis. Assustadoras. Explosivas. Capazes de matar. No amor, diferente de um CD, não é possível simplesmente avançar a faixa, ignorando totalmente a parte ruim. No mundo real, coisas reais acontecem e precisam ser enfrentadas. Muitas vezes este enfrentamento é mesmo um confronto com ações comuns a combates, neste contexto, nomeadas como brigas, crises e pitis. As diferenças são sutis, mas devem ser analisadas.

As brigas respeitam as leis naturais de causa e efeito. Apesar de eclodirem em momentos específicos, trazem muitas lembranças à tona. Uma briga é composta pelo fato imediato somado aos fatos recorrentes. Brigas são caracterizadas por longas “conversas” em que as falhas comportamentais são minuciosamente enumeradas a fim de que o outro encontre explicações plausíveis para tais ações. Em alguns casos existe uma mulher aos prantos dizendo “eu não agüento mais” e em situações extremas carros podem ser drasticamente danificados (ou qualquer outra coisa que seja interpretada como uma extensão do homem. Neste ponto, após uma rápida conclusão, a mulher percebe que não é viável passar 30 anos na prisão, então o homem em questão garante sua integridade física, porém o mesmo não é válido para seus pertences).

Já as crises podem ser pré ou pós-brigas. Não respeitam nenhuma ordem padrão e podem ocorrer por inúmeros motivos. Em muitos casos são geradas pela percepção que os fatos recorrentes são muito mais recorrentes do que se imaginava. Algumas têm como característica momentos de silêncio e estranheza que abruptamente dão lugar a brigas por motivos tão importantes como esquecer-se de comprar leite. Frases comuns “você sempre faz isso” “você nunca vai mudar” “já esperava isso de você”.

Quanto aos pitis, vale ressaltar, que nem sempre os homens estão familiarizados com o termo e é possível que seja uma forma de extravasar exclusivamente feminina. Ninguém consegue ter um piti sem que as pessoas ao redor percebam o clima pesado. Existe uma coisa no ar. Uma névoa densa e preta. Muito preta. Homens também percebem. Principalmente o seu. Ele vai querer descobrir o que é. E é neste momento de curiosidade que muitas se aproveitam. Ele começa: o que aconteceu? E ela, sem encará-lo nos olhos, responde: NADA. Aqui existe uma obrigação implícita do homem insistir e perguntar mais e mais e mais o que aconteceu até que ela sinta que ele já insistiu o suficiente e está pronto para O piti.

Os pitis começam e terminam sem aviso prévio. Aos olhos de um mero observador parecem não ter motivo aparente ou relevante. Mas é muito inteligente isso nunca ser mencionado em um momento de piti. Geralmente são caracterizados por Cavaleiros do Apocalipse que descem do céu e um homem perplexo que ouve tudo sem entender absolutamente nada do que ela está falando. Mesmo assim ela insiste em dizer coisas como “você não se importa comigo” “você não me ama”. Querido, ouça atentamente, fale o mínimo que puder e tenha paciência, porque da mesma maneira intempestiva que começam, os pitis terminam. Logo ela estará de volta, arrependida e muito carinhosa.

É evidente que nada disso é bonito, melodioso ou motivo de orgulho. São apenas coisas que acontecem por aí o tempo todo. Muitos relacionamentos podem não ter experimentado nenhuma das questões acima apresentadas. Outros tantos parecem não conseguir se manter sem que um ambiente infernal seja constantemente alimentado. Acredito que relacionamentos existem para sermos felizes e cuidar para que o outro esteja muito feliz. Como proceder? Ah, sou apenas uma engenheira que nem atua com engenharia. Só acho que não dá para ser feliz o tempo todo. Relacionar-se exige esforço. Muito esforço. Mas é melhor, muito melhor, serem dois do que um. E disso, meu bem, eu tenho muita certeza.

Beijo grande

Kézia

7 comentários:

Fabi Skrobot disse...

Lindinha,
Você conseguiu traduzir exatamente o que é relacionar-se. Já usei muitas comparações, mas essa, com o CD, sem dúvida é a melhor que já vi.
Engraçado que falei disso em um dos meus últimos posts. A gente tem uma tendência séria (e quase incontrolável) de só ver o lado ruim e o que o outro não fez. Mas acredito que sem isso também não teria muita graça :-)
Estou com o Ju há 16 anos, e ainda não consegui achar o meio termo... hehehe...
Beijocas

Diário de um Tonto disse...

Oi Kézia,

Uma ressalva para o trecho "Mas é melhor, muito melhor, serem dois do que um." É, disso eu sei também, e muito bem.

Concordo com a Fabi Skrobot, sem dúvida uma das melhores comparações que já li.

Um abraço,

Heitor.

Penny Lane disse...

Nossa, você disse TUDO.Relacionamentos são difícies sim,mas como você mesma disse,tem situações que não dá para pular como uma música, e é preciso muito esforço!

enfim,amei seu texto!

bjs

Anônimo disse...

Somente para deixar um comentário... Kézia, sou teu fã de carterinha. Peço encarecidamente que continue com estes textos. São de uma escrita incrível. Um grande beijo.

Carol disse...

Kézia, que lindooooo!!!!

Um beijo

Ácidas e Doces disse...

Hello people
Sou uma ótima teórica.
To aqui pensando, na atual conjuntura, só conheço uma pessoa capaz de dizer "são de uma escrita incrível". Incrível é eu continuar escrevendo mesmo com ferimentos no dedo.
Beijo grande, queridos
Kézia

Ane Sik disse...

Querida Kézia,

Relacionamento é troca, mas antes de tudo é entrega. Não podemos esperar do outro nada a mais do que damos a ele. Na realidade não deveríamos esperar nem o que damos a ele... Creio que a principal vilã é a nossa expectativa, trate-a com carinho e a acolha que certamente seu relacionamento será melhor...rs

A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional...rs

Adoro vir aqui... e não deixe de contar do casamento da sua irma...

bjos