sexta-feira, 5 de novembro de 2010

BOPE – A história de um tenente

Carta do Tenente Fábio à correspondente Kézia

Após ler a sua última coluna, percebi que nem tudo ficou claro. Eu sou tenente Fábio. Tudo na vida tem um começo e o meu foi assim:

Comecei no batalhão convencional como aspirante. Lembro do meu primeiro dia de trabalho. Porra, aquilo me impressionou pra caralho. Eu acreditei naquela conversa mole de sempre. Depois de tanto tempo corrompido, eu acreditava em qualquer coisa. Queria ação. Invadir morro. Carregar corpo. Eu era pegador de coração. Mas agia antes de pensar. Sem estratégia a missão não tem sentido. E eu aprendi isso da pior forma possível: no meio do tiroteio.

A primeira operação foi invadir o morro da Awake. Quem é que não gosta de se dar bem com mulher bonita e bem intencionada na balada? Só que os pegadores convencionais não são treinados pra guerra. Pegador tem enrosco. Tem medo de perder. Não sabe abordar. E o pior, não sabe administrar. Ninguém quer morrer à toa. E quando um convencional sobe o morro, geralmente dá merda. Eu tava cercado. É na hora da morte que a gente entende a vida. Foi ali que a minha história cruzou com a do BOPE. A tropa de elite dos pegadores. O Capitão Lopes era ligeiro. Com um tiro de fuzil já passou uma raposa. Chegou intimando meu pelotão: “Alguns dos senhores está ferido? Algum dos senhores está baleado? Então hoje os senhores vão aprender a carregar corpos.” Cara, eu tive certeza: o meu lugar não era no batalhão comum. Eu precisava daquela farda preta.

Eu decidi entrar pro BOPE porque eu gostava de guerra. O que eu não sabia era que perto do BOPE os convencionais eram umas moças.

O treinamento era coisa de louco. “Os senhores chegaram até aqui pelas suas próprias pernas, ninguém, absolutamente ninguém os convidou e nenhum dos senhores é bem vindo aqui. Preparem as suas almas, porque os seus corpos já nos pertencem, eu declaro aberto o primeiro curso de formação do Batalhão de Operações dos Pegadores Especiais. Caveiras, avançar.” Aquilo era uma seita.

A primeira fase do curso é só porrada. O objetivo é eliminar os fracos, principalmente os corruptos. Prova disso é o Galeb. O cara tava acostumado com moleza. Vagabundo. Vivia na rebarba dos outros soldados.

Capitão Lopes (à direita) e Galeb durante o curso de formação.

O cara não aguentou a pressão.

No final do curso ficaram 4 e eu era um deles. A máquina de guerra que a gente formou mudou a história dessa cidade. Só que o mapa do crime em todo estado começou a sair do controle. Eu não sei o que me irritava mais: as mulheres fortemente armadas e sozinhas ou a incompetência dos pegadores convencionais. Então o BOPE precisou aumentar suas equipes táticas e atender todo Paraná. E missão dada, é missão cumprida. Eu ia subir armado, parceiro, e de farda preta. Agora a gente operava de blindado, de helicóptero. Invadimos a Awake, Black Bull pelo fumódromo, Guaratuba (quando comecei a operar na mesma equipe do Tenente Marcos). E foi só em Maringá que o Borges entrou pro Batalhão. Daí é aquela, o Capitão precisava assumir a Secretaria e deixar alguém digno no seu lugar, e assim o Borges assumiu o Comando.

Parecia que tava tudo resolvido. Mas o Borges começou a se ocupar de outras atividades. Parceiro, o que me deixava puto era ele não perceber que um cara do BOPE não é como os outros. Tem que ter dedicação total. Então continuei a minha guerra no BOPE, assumindo as missões que o Borges não comparecia. Era hora de eu assumir o controle da parada. Era a minha vez de ser o 01. Eu vou fazer o que o destino me permitiu. Vou cair para dentro e os alvos serão muitos. Neste final de semana parto pra uma missão de vingança em Maringá. Faca na caveira e muito na carteira. E dessa vez, parceiro, aquela raposa conhecer o saco. Segunda-feira é só história pra contar.


Nota da correspondente: BOPE dando entrevista... sabe o que é isso, Capitão? Passos larrrgos.

6 comentários:

Blog Sozinha ou Acompanhada disse...

Hey Meninas... e então... estou louca pra saber no que deu???
beijocas,
Mari

nanda disse...

Muito bom!
Hahaha!
Adorei!

Diário de um Tonto disse...

Caramba... texto comparativo muito bom! Feliz eu seria se tivesse sido treinado antes por esse BOPE da pegação... acho que seria bem menos tímido (ou nada tímido).

Bom texto, Kézia.

Heitor.

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

"Correspondente Kézia" é tudo, hahaha!!!

Mas peraí, diante da foto nova, eu quero saber: a Fernanda é a que está usando lenço vermelho? Seu rosto me é familiar, sempre desconfiei disso. Vc por acaso estudou com o meu irmão, Felipe Pereira Barros, em Maceió? Na Monteiro Lobato?

Beijos para as duas,

Bela - A Divorciada

Ácidas e Doces disse...

Hello people
Também não sei no que deu, mas pelo silêncio...
Bope vai virar livro ainda.
Bela, sua doida, aqui quem fala é a correspondente Kézia, a mocinha de lenço vermelho (amo acessórios... mas amooooo mesmo). Será que eu te sou familiar? Não sei... porque ainda não sou famosa, então não foi nem na Oprah nem no Jô que você me viu. Fernanda é aquele cisco à minha direita. Perguntei e ela disse que estudou no Monteiro Lobato até a 4ª série.
Beijo queridos
Kézia

3 x Trinta - Solteira, Casada, Divorciada disse...

Gente, eu jurava que vc era a Fernanda, hahaha!!! Bem, vc é a cara de uma Fernanda que estudou com o meu irmão Felipe. A cara. Pela idade, ela pode ter conhecido o meu outro irmão, Miguel Pereira Barros, que terminou o colégio no glorioso Monteiro Lobato. Coisas da vida...

Beijão, apareçam lá no blog,

Bela - A Divorciada